Associação global de profissionais de finanças conclama indústria de investimentos a “elevar o padrão”


A maioria dos brasileiros ainda enfrenta dificuldades para investir bem. Mas, se a educação financeira continua a ser um problema no Brasil, as instituições financeiras também precisam assumir parte da responsabilidade e ajudar a elevar o padrão de toda a indústria. Ao menos essa é a ideia que norteia o trabalho de uma das maiores associações de profissionais do setor. “Precisamos ter um foco maior em ética para termos uma indústria de investimentos mais robusta”, alerta Mauro Miranda, CFA, presidente da CFA Society Brazil.

A CFA Society Brazil é a entidade que reúne os detentores da certificação CFA em todo o território nacional. Esta é um braço do CFA Institute, uma das mais conceituadas associações do mercado financeiro no mundo. A associação é a responsável pela certificação CFA® – Chartered Financial Analyst e reúne cerca de 155 mil membros em 165 países. Tornar-se um detentor da certificação CFA, no entanto, não é tarefa fácil. Em média, os alunos dedicam cerca de 320 horas de estudo para cada um dos três níveis exigidos para a aprovação – e aproximadamente 15% de todo o programa aborda questões éticas na profissão. “Essa é uma bandeira que o CFA carrega há décadas”, complementa Miranda.

“As práticas que ferem os princípios éticos podem envolver desde a omissão de alguma informação a oferecer um produto mais arrojado para um cliente que não entende os riscos envolvidos”, explica Miranda. Profissionais do setor podem seguir essas práticas questionáveis para entregar resultados de curto prazo dentro de um contexto onde as instituições estabelecem metas agressivas. A questão é que esse modelo não coloca o investidor no centro da instituição e, no longo prazo, não se sustenta.

É preciso pontuar que os últimos anos foram marcados por uma grande evolução no mercado brasileiro, sobretudo com os assessores de investimentos em instituições independentes ganhando espaço sobre os gerentes dos bancos, que costumam ter metas agressivas para distribuir produtos próprios da instituição. A demanda por uma indústria de investimentos mais focada no cliente e em relações duradouras, no entanto, não é uma particularidade do Brasil. Tanto que o CFA Institute lançou uma ampla campanha em mais de 10 países com o mote “Let’s measure up”, traduzindo-se em português para “Vamos elevar o padrão”.

O pedido por um padrão mais elevado tem como pano de fundo a ideia de que as instituições devem se atualizar para atender às expectativas de um investidor que é cada vez mais exigente. Esse investidor, no entanto, reconhece que existem boas oportunidades nos mercados. O relatório “The Next Generation of Trust”, publicado pelo CFA Institute, traz uma pesquisa com 3.127 investidores de varejo em 12 mercados, todos com investimentos de pelo menos US$ 100.000, e 90% deles concordam com a afirmação de que existe uma oportunidade justa para lucrar com investimentos nos mercados financeiros.

De acordo com o CFA Institute, a maior insatisfação dos investidores diz respeito a questões de transparência, como não abrir todas as informações relacionadas a taxas e custos ou deixar de informar possíveis conflitos de interesse. A pesquisa também revelou a demanda por relatórios de investimentos fáceis de entender, retornos similares ou melhores do que os benchmarks e tarifas que realmente reflitam o valor gerado.

Paul Smith, CFA, presidente do CFA Institute, escreveu no texto de abertura do relatório que, embora as performances sobre os investimentos não possam ser garantidas para os investidores, todas as outras ações que são essenciais para construir a confiança estão sob o controle da indústria de investimentos. “Em uma indústria onde as receitas agora são mais direcionadas pela retenção de clientes do que pela aquisição de clientes, a conclusão é que o valor da confiança não deve ser subestimado como uma vantagem competitiva”, explica.

 “Faça você mesmo”

O Brasil tem uma particularidade em relação ao restante do mundo. Considerando todos os países pesquisados, o mercado brasileiro é o que apresentou o menor índice de investidores trabalhando junto a consultores financeiros: 37%. No mundo, a média tem sido de 56%. Essa cultura do “faça você mesmo” na hora de investir também pode refletir um nível relativamente baixo de cultura financeira no país.

Para Miranda, a educação financeira é um conceito muito mais amplo do que apenas poupar para o futuro. “É entender os produtos, os riscos, as oportunidades e todas as opções do mercado”, afirma. “Tem-se uma falsa sensação de que qualquer investidor tem as informações necessárias para tomar as melhores decisões por conta própria, mas isso não é verdade.” Mudar esse cenário passa por reforçar a confiança dos brasileiros na figura do assessor.

Um dos maiores erros de quem investe por conta própria é imaginar que para investir basta olhar a rentabilidade. É preciso analisar a carteira como um todo, incluindo aspectos como uma análise de volatilidade e liquidez. “Temos muitas informações que não são do dia a dia do investidor, o assessor conhece mais o mercado, essa é a profissão dele”, ressalta Miranda.

Para aumentar a presença dos assessores entre os investidores no Brasil, o trabalho passa por uma forte atuação em incrementar a confiança. De acordo com a pesquisa do CFA Institute, 73% dos entrevistados no Brasil declararam que a confiança precisa ser conquistada e mantida com o tempo – esse é um número muito mais elevado do que a média global, de 46%. E profissionais com um padrão mais elevado podem ajudar a alterar esse cenário para reter mais clientes. “Esses profissionais não seguem apenas as regras que estão na lei e nos códigos internos de compliance. Eles têm como base preceitos que vão muito além”, explica Miranda.

Para as instituições financeiras que ainda não estão de acordo com os padrões mais elevados, o presidente da CFA Society Brazil faz um alerta. “As instituições que têm práticas duvidosas, que podem ludibriar o investidor de alguma maneira, certamente não perdurarão”, diz. “As empresas devem entender que os retornos – tanto para os investidores como para elas próprias – têm de ser sustentáveis no longo prazo”, complementa.




Fonte: infomoney

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