Capacidade ociosa da indústria ainda é alta e emprego no setor não cresce


A economia brasileira registrou o terceiro resultado trimestral positivo. O Produto Interno Bruto (PIB) ficou estável entre julho e setembro de 2017, com uma variação de 0,1%, segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira. Apesar dos primeiros sinais da retomada - como o consumo das famílias que cresceu pelo segundo trimestre e um tímido avanço dos investimentos agora - começarem a aparecer, a recuperação econômica ainda será lenta na opinião de analistas.

No lado da demanda, o horizonte de inflação baixa, melhora gradual do desemprego e juros menores devem continuar a impulsionar os gastos dos consumidores no próximo ano. Mas do lado da oferta, o cenário ainda é incerto. A utilização da capacidade instalada continua baixa, segundo a sondagem industrial realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os estoques que chegaram a atingir um nível acima do planejado em setembro, voltaram a recuar em outubro. O emprego industrial parou de cair, mas ainda não cresce.

“O que podemos perceber é que a intenção de investir dos empresários está aumentando, mas ainda não conseguimos ver de forma consistente o investimento em aumento da capacidade de produção, porque a ociosidade ainda está grande“, explica o economista Marcelo Azevedo, da CNI. Para o especialista, o investimento que começa a ser registrado se restringe a melhorias de redução de custo. "A expectativa de demanda ainda que seja positiva não é muito forte, pois a recuperação da atividade ainda é muito lenta", explica.

Para o próximo ano, Azevedo acredita que o crescimento deve ser tornar mais constante. "Hoje os índices sobem, se estabilizam e algumas vezes voltam a cair. Ao longo de 2018, mesmo que fraco, devemos manter um crescimento mais constante", diz.

Na pesquisa Focus, do Banco Central, que levanta as projeções de mais de 100 instituições financeiras do país, os economistas mantiveram em 0,73% a previsão para o avanço do PIB deste ano. Já para 2018, a estimativa do crescimento da economia subiu de 2,51% para 2,58%.

No entanto, na avaliação de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, “estamos em um processo de consolidação da recuperação, mas agora espalhado pelos diversos segmentos. O que é melhor", diz Vale.

O setor dos veículos é um dos otimistas com a retomada. Até outubro, em todos os meses de 2017, a produção registrou crescimento quando comparado com o mesmo período do ano anterior, de acordo com os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ( Anfavea). Para Antonio Megale, presidente da Anfavea, a expectativa é positiva. "O ritmo médio diário de vendas se mantém acima das 9.500 unidades, mais um sinal da retomada da confiança diante de indicadores econômicos positivos, como redução do desemprego, inflação em baixa e queda da taxa de juros”, afirma em nota.

Mesmo que haja uma melhora na confiança no setor industrial e empresarial, ainda não há nenhum indicador tão positivo que salte aos olhos, segundo o economista Bruno Levy, da consultoria Tendências. "Os fundamentos econômicos estão melhorando, essa recuperação cíclica é importante, mas ainda há uma incerteza política muito forte que torna o ambiente muito conturbado", diz. Para Levy, a perspectiva para o próximo ano é de crescimento, mas o economista pondera que caso a votação da Reforma da Previdência - esperada para este mês- seja frustrada, os investimentos esperados para 2018 podem ser reduzidos.

Balança comercial

O bom desempenho das exportações - que devem fechar 2017 com um crescimento de cerca de 18% – , fortemente impulsionado pela supersafra de soja, não deve ser repetido no ano que vem. "A contribuição do comércio exterior será negativa para o PIB já que há uma expectativa de 2018 ser um período seco", explica o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Segundo ele, caso o crescimento de 2,5% do PIB seja confirmado para o próximo ano, serão as importações que irão subir diante de uma demanda interna maior. "A exportações, fortemente dependentes das commodities, não devem crescer mais que 5%. Já a importação pode avançar até 15,5% se a atividade crescer no nível estimado", explica.

Castro ressalta ainda que há uma expectativa que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul saia do papel. "Se for confirmado, as empresas e o país terão que se adaptar à nova realidade do acordo. Caso não queira que o mercado no país seja invadido por produtos europeus, os brasileiros terão que impulsionar reformas para diminuir o custo Brasil e enfrentar a concorrência", afirma.



Fonte:brasil elpais

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