Raiz de valor: histórico e comercial
Qual brasileiro não conhece a mandioca? Pode ser macaxeira, aipim, maniva, castelinha, uaipi. Frita, em bolinho, purê, cozida, em caldo, no bar, em casa, na gastronomia ou alimentação animal. O alimento é tipicamente brasileiro e a história é antiga. Quando os portugueses chegaram os índios que habitavam por aqui já conheciam a mandioca há muito tempo.
Entre os séculos XVI e XIX a alimentação do brasileiro, de um modo geral, e, sobretudo nas áreas em que mais se fez sentir a influência indígena, sustentava-se basicamente na cultura e no consumo da mandioca e da cana-de-açúcar. A raiz é originária do Nordeste mas hoje tem cultivo de Norte a Sul, seja para alimentação nas variedades de mesa ou para produção de farinha e fécula, na indústria. Alguns elementos decisivos para a aceitação da mandioca pelos europeus que vieram habitar o Brasil foram: a facilidade de cultivo, rusticidade, capacidade de regeneração e de adaptação ecológica a ela inerente.
Cultivo e manejo simples
A mandioca tem alta adaptabilidade a tipos de solo e escassez de água mas alguns fatores devem ser observados para iniciar um cultivo e ter sucesso na produção. O Engenheiro Agrônomo da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Helton Heck, dá algumas dicas para quem quer começar na atividade para fins comerciais/industriais:
- O produtor deve avaliar a área que tem disponível quanto a capacidade operacional, capacidade de plantar e de colher;
- Verificar se há mão-de-obra disponível para a colheita já que é feita de forma semi-mecanizada. Depois que a máquina afrouxa as raízes a coleta é manual;
- Se há condições de escoar a produção no que tange à transporte e estrutura de estradas, proximidade de pontos de recebimento;
- Escolher a variedade adequada para o perfil da região em que está. Nos últimos anos instituições de pesquisa investem no melhoramento genético de variedades de forma a obter o melhor do potencial em um ciclo.
- Conhecer a fertilidade e perfil do solo e fazer os devidos ajustes nutricionais para não exceder a dose de calcário e fonte de fósforo, exigências da cultura para obter produtividade.
Heck explica que a grande variedade de cultivares se adapta, especialmente, a solos leves mas também é possível cultivar em mistos, argilosos e arenosos. A mandioca é bem resistente a escassez de água e não tem suscetibilidade grande à pragas. Hoje, a principal praga é a Mandorová, a mariposa causa desfolha atrapalhando o potencial produtivo.
Neste mesmo sentido entram as formigas cortadeiras. Em regiões que são grandes produtoras de grãos, como o Centro-Sul, a raiz também vem sofrendo com a mosca-branca, resultado de manejo desequilibrado e por grandes extensões com culturas concentradas, disputando espaço com culturas que têm alta incidência da praga, como a soja. “Trabalhamos na pesquisa desenvolvendo novas variedades que atendam a necessidade de diversas áreas. Na soja, por exemplo, há muitas opções para o produtor. Na mandioca talvez em uns 15 anos consigamos alcançar a demanda”, diz.
Outra característica importante da mandioca é o potencial de recuperação do solo e auxílio no controle de doenças de outras culturas, como os nematoides na soja. As raízes interagem de forma diferente com o solo e a cultura já faz uso do plantio direto para garantir a cobertura no começo do plantio. Como a mandioca leva pelo menos 8 meses para ser colhida, o ciclo mais longo que grãos e pastagem permite que o solo “descanse” e recupere algumas características e “matando” os vermes que causam doenças radiculares.
Produção industrial
A escala industrial vem atraindo a atenção de produtores. São vários os usos: farinha, fécula, polvilho azedo, alimentação animal e até produção de etanol. Um estudo da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia aponta que a mandioca-doce tem 25% de glicose e pelo menos 10% de sacarose nessa raiz. O açúcar que tem na cana é só sacarose, e apenas 12%. Enquanto uma tonelada de cana produz 85 litros de álcool, a mesma quantidade de mandioca pode produzir 211 litros do combustível. Porém, os custos de produção da cana-de-açúcar são menores em cerca de 50% quando comparados aos da mandioca.
A farinha é, provavelmente, a forma mais comum de aproveitamento industrial da mandioca e um dos alimentos de maior consumo no país. Existe uma grande diversidade entre os tipos de farinha no Brasil. A fécula é obtida por lavagem das raízes após a moagem e a decantação da água de lavagem.
A produção pode ser feita em um ciclo, quando ao final do desenvolvimento ocorre a colheita, ou dois ciclos, quando é feita a poda no final do desenvolvimento e espera-se mais um ano para a colheita. A meta da Embrapa Mandioca e Fruticultura é desenvolver variedades onde o rendimento no primeiro ciclo seja semelhante ao do segundo, fortalecendo a renda do produtor e evitando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de doenças como a podridão das raízes.
O alimento do século
A Organização das Nações Unidas (ONU), elegeu a mandioca como o alimento do século 21. Entre os fatores que colaboraram para isso o seu amplo uso e valor nutricional. De acordo com a Embrapa, é um dos principais alimentos energéticos para mais de 700 milhões de pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento, e ajuda a combater a fome. Vem sendo boa alternativa ao trigo por não ter glúten e pode substituir outras fontes de carboidrato como batata, arroz e macarrão. A mandioca cozida contém cálcio, magnésio, fósforo, potássio e vitamina C. Auxilia no funcionamento do sistema cardiovascular, contra diabetes, combate artrite e melhora o sistema imunológico.
O médico nutrólogo, Leandro Minozzo, diz que a mandioca é um dos principais alimentos em vários países. “É uma fonte de energia na forma de amido, sendo também rica em minerais e algumas vitaminas. A fibra contida na mandioca auxilia também no funcionamento intestinal. Há pesquisas que apontam até mesmo para a presença de alguns polifenóis, mas a relevância maior está no fornecimento de energia, fibras e ser acessível à população”, destaca.
Pela presença de carboidrato a moderação na dieta é fundamental tanto no alimento in natura ou em farinhas, alerta Minozzo. “A mandioca fornece energia sendo um alimento natural - do tipo que os nutrólogos e nutricionistas devem recomendar sempre, contrapondo os industrializados. Sua fibra auxilia na digestão e minerais e vitaminas em diversas funções metabólicas”, completa.
Se você se interessou pelo cultivo confira a reportagem em vídeo que mostra os benefícios na renda e na agricultura, com especialista na Indústria de Amidos, da Cooperativa C.Vale.
Fonte: AgroLink