Rombo das contas externas sobe para US$ 50 bilhões em 2019, pior resultado desde 2015
Puxadas pela queda das exportações, as contas externas brasileiras registraram em 2019 o pior resultado para um ano desde 2015. O déficit em transações correntes — quando o volume de dinheiro que sai do Brasil supera o montante que entra no país — foi de US$ 50,8 bilhões no ano passado, informou nesta segunda-feira o Banco Central (BC).Apesar disso, o rombo seguiu coberto com folga pelos investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira, que somaram US$ 78,5 bilhões em 2019. Foi uma pequena alta frente ao ano anterior, quando totalizou US$ 78,1 bilhões.
Nesta segunda-feira, o dólar é negociado a R$ 4,21, alta de 0,72%, com a confirmação de novos casos de coronavírus fora da Ásia. A Bolsa cai 2,3%, aos 115.479 pontos.
O saldo das transações correntes, um dos principais sobre o setor externo do país, é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).
As contas externas servem como um indicador do grau de vulnerabilidade da economia de um país em relação ao mundo. Um país com as contas ruins ou que não estão cobertas é considerado mais vulnerável e, portanto, mais sujeito a crises externas. Se há uma expansão grande nos gastos públicos, isso também é sentido nas contas externas. Por isso, os investidores olham com atenção esse dado.
No caso do Brasil, o crescimento da economia também tende a ampliar o déficit, principalmente por contas das importações maiores.
O chefe do Departamento de Estatística do BC, Fernando Rocha, diz que o rombo nas contas externas não preocupa porque ele foi puxado pelo superávit menor da balança comercial.
Na comparação com o ano anterior, o saldo positivo da balança comercial reduziu de US$ 53 bilhões para US$ 39,4 bilhões em 2019. O movimento foi influenciado pela queda de 6,3% nas exportações e recuo de 0,8% nas importações. O rombo na conta de serviços, como o transporte para enviar as exportações para fora do país, caiu 1,7%, para US$ 35,1 bilhões.
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, afirma que a continuidade do ajuste nas contas públicas é fundamental para o equilíbrio estrututal das contas do setor externo.
"No geral, um ajuste fiscal profundo que elevaria as economias do setor público é fundamental para facilitar um ajuste estrutural permanente da conta corrente, no lugar de apenas um ajuste cíclico impulsionado pela fraca demanda doméstica abaixo do potencial", disse ele, em relatório.
André Perfeito, da Necton, diz que o Brasil tem atraído menos investimentos e que isso pode ser preocupante.
O fluxo da balança comercial é preocupante e se o Brasil voltar a crescer de fato isto pode se agravar — afirmou.
O dólar caro afastou o turista brasileiro dos destinos internacionais no ano passado. Os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 17,5 bilhões em todo ano de 2019, segundo o BC.
Isso representa uma queda de 3,7% na comparação com 2018, quando as despesas lá fora somaram US$ 18,265 bilhões. Esse foi o menor valor, para um ano fechado, desde 2016.A moeda americana bateu sucessivos recordes de alta em 2019, chegando ao pico de R$ 4,25. Com o dólar alto, as viagens de brasileiros ao exterior ficaram mais caras. Além da taxa de câmbio, o nível de emprego e renda do brasileira é outro fator que influencia o gasto no exterior.No ano de 2019, conforme o Banco Central, os estrangeiros gastaram US$ 5,913 bilhões no Brasil, valor praticamente estável na comparação com o ano de 2018 (US$ 5,921 bilhões).
Fonte: Época Negócios