Taxas de gestores consomem 19% da rentabilidade do cliente
Os dados - da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) - mostram que, em alguns casos, gestores chegam a ganhar até três vezes mais que os clientes.
A pesar de centenas de fundos de investimentos terem recentemente apresentado rendimento menor até do que o da caderneta de poupança, a remuneração dos gestores tem crescido. Em 2016, a gestão dos fundos foi remunerada, em média, em 13% do ganho financeiro dos investidores. Em 2019, essa parcela cresceu para 19%, segundo levantamento da plataforma de investimento Vérios, feita a pedido do Estadão/Broadcast.
Os dados - da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) - mostram que, em alguns casos, gestores chegam a ganhar até três vezes mais que os clientes. Foram analisados 310 fundos, com R$ 138 bilhões de patrimônio líquido. Em média, 90% dos fundos recolhem taxa de performance - aquela paga quando a carteira tem rendimento superior à referência do fundo (meta de retorno estabelecida na compra do produto).
Cobrança
A maior fonte de faturamento dos gestores é a taxa de administração, que responde por 67% dos ganhos, ao passo que as taxas de performance contribuem com 33%.Da taxa de administração média de 2% cobrada dos investidores, entre 0,5 e 0,8 ponto porcentual fica com quem vende os fundos, ou seja, plataformas e family offices (gestores de fortunas), por exemplo. O Estadão/Broadcast apurou que, no mercado, ainda não existe uma discussão em torno de redução dessa cobrança na maioria das gestoras.
A demanda pelos fundos de investimento está muito elevada, diante da queda das taxas de juros, e os investidores estão colocando mais dinheiro em fundos tradicionais, com taxa de administração de 2% ou mais, que tira a pressão para a discussão sobre a cobrança. O aumento da demanda ocorre num momento em que o acesso a esses produtos e a facilidade de captação têm crescido com as plataformas digitais.
Demanda
Uma fonte do alto escalão de um banco de investimento destaca que, hoje, esse ambiente de maior demanda pelos fundos torna mais difícil um movimento de redução de taxas pela indústria.No atual cenário de juro baixo - a taxa Selic está em 6% ao ano, nível mais baixo da história -, a entrada de recursos nos fundos tem batido sucessivos recordes. A indústria de fundos alcançou R$ 161,7 bilhões de captação líquida de janeiro a julho, valor 226% maior que o registrado no mesmo período de 2018 (R$ 49,6 bilhões). Os aportes foram liderados pelos fundos multimercados e de ações, que somaram R$ 37,9 bilhões e R$ 32,6 bilhões de entrada líquida, respectivamente, de acordo com dados da Anbima.O presidente da Vérios, Felipe Sotto-Maior, afirma que o investidor ainda não tem noção do que paga quando investe nos fundos e que uma mudança só será observada quando houver pressão dos clientes. Além disso, ele acredita que a expansão da indústria de ETFs (sigla para Exchange Traded Funds) no Brasil, já gigante no exterior, será outra forma que conduzirá os fundos de investimento para patamares mais baixos de cobrança. Os ETFs são fundos de ações negociados na Bolsa que buscam replicar uma carteira de ações que compõe determinado índice de mercado e têm custo mais baixo para o investidor. Os principais no mercado brasileiro têm taxa de administração de 0,3%.Sotto-Maior frisa, no entanto, que o acesso a esses produtos não é facilitado pelas plataformas digitais e que falta interesse em distribuir os ETFs, que podem ser atrelados aos índices de ações, como o Ibovespa, ou a índices de renda fixa.Para o executivo da Vérios, com taxas de administração tão elevadas, os gestores acabam ampliando o risco de seus portfólios para entregar mais rentabilidade. Segundo ele, essa não deveria ser a solução, já que o risco tomado acaba sendo do próprio investidor. "A solução é rever as taxas", afirma. Com essa redução, o investidor poderia ter mais retorno sem aumento do risco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Época Negócios